quarta-feira, 7 de maio de 2008

O ABRAÇO

Escrevi esse texto em meu diário, em 2006. Naquela época eu estava lutando contra uma depressão que me alcançou... Pra vencer a depressão é preciso lutar bastante e mais do que nunca perseverar. Nesse árduo caminho, o abraço daqueles que me amam foi um ótimo remédio... o abraço é uma fonte de cura! Bom... lá vai o texto (apenas substitui o nome da aluna pela letra A):



De todas as coisas da vida, o abraço é o que mais amo! Existe algo muito sagrado no abraço: creio – e sinto isso - que o abraço é o momento cósmico em que duas almas se tocam através do corpo. Algumas pessoas se encostam, mas não se abraçam de fato. Às vezes abraçamos alguém que não nos abraça. O abraço, de fato, envolve energia, reciprocidade, envolvimento mútuo, um bem-querer comum.
Eu abraço todo mundo... vivo abraçando... amo abraçar... o abraço é luz! Abraço meu marido, meus familiares, meus amigos, meus alunos... abraço é calor, abrigo, aconchego, é força, solidariedade, unidade, amor, luz! Às vezes, não sou abraçada quando abraço. Mas não importa. O que importa é que no meio de tanta gente, minha alma tem abraçado algumas almas num momento cósmico de reciprocidade profunda... O abraço é luz! Luz mesmo! Emanação do sagrado ciclo da vida...
Tenho uma aluna da 5a.série chamada A. Tem apenas 11 anos. Magrinha, moreninha, baixinha, com seus longos cabelos lisos castanho-escuros... linda! É uma princesinha! Tenho dado aula para seus outros irmãos, todos tão lindos, educados e dedicados aos estudos – coisa raríssima hoje em dia. Que Deus os preserve assim... luz nesse mundo.
A. começou suas aulas de violão comigo, na oficina de música que faço na escola. Seu esforço é grande, seu talento ainda muito maior. Pega tudo com facilidade, apesar de suas mãozinhas tão pequenas...O violão é quase do tamanho dela. E lá vem aquele “pingo-de-gente” correndo me abraçar, todas as vezes que me vê. Que presente de Deus!
Os alunos que me abraçam diariamente, e cada abraço me faz feliz! São luzes piscando, como vaga-lumes, no meio da escuridão onde às vezes me encontro quando chego na escola, e que deixam tudo mais bonito! Porém o abraço de A., de todos os abraços, é o que flui mais energia. Quando aqueles bracinhos tão magrinhos – mas que têm a força de um gigante - me envolvem e os meus a envolvem, algo acontece. Algo de Deus! É de fato um abraço. Não há palavras para descrever o que sentimos ali.
Meus dias têm sido de uma luta constante contra a tristeza... tenho, ao contrário de antes, mais dificuldade de sorrir com o coração... quase sempre tenho um sorriso vazio no rosto... faz parte do momento... mas não vivo me lamentando pelos cantos e tento me alegrar com pequeníssimas coisas. Eu sempre fui assim espontaneamente. Hoje tenho me esforçado nisso. As coisas que parecem ser pequenas, são, de fato, as grandes coisas e as que realmente importam, por serem portadoras da Eternidade, da Essência. Tenho conseguido muitas vezes, graças a Deus, resgatar dentro de mim a capacidade de transcender a tristeza teimosa do meu coração, brincando com as cachorras lá de casa, apreciando e tirando fotografias, passeando com meu marido, curtindo meus alunos, contemplando a natureza, sentindo o vento, tomando banho de chuva, bebendo um café quentinho, lendo um bom livro, olhando as flores etc...
No final de uma aula - naquele dia eu estava péssima, mas procurando não demonstrar isso para as crianças – A. estava com febre e estava indo para casa. Veio me abraçar, como de costume. Nos abraçamos. Ficamos. Como se o momento tivesse paralisado. Ela me abraçou ainda mais forte. Ficamos assim. Silêncio. Energia intensa, não sei como explicar. Quando ela me largou, seus olhos estavam cheios de lágrimas e uma delas desceu pelo seu rostinho... Perguntei “O que foi, filhote?” então ela suspendeu seus ombros, virou a palma das mãos para cima e olhou para o lado, num gesto dizendo “não sei”. Naquele instante eu temi, pois percebi que sua alma chorou as minhas lágrimas... “Você vai melhorar já, já! Não deixe de tomar o remédio logo que chegar em casa!”- tentei disfarçar meu espanto por aquele momento. Então lá se foi minha pequena A para casa, levando consigo o meu coração...
Certa vez, pedi à A que escrevesse algo na minha agenda. No dia seguinte, ela veio e escreveu “gostar da senhora é muito fácil porque a senhora é especial. Conviver contigo é ter um presente diário. Você morará sempre no meu coração. Te amo. Beijos, sua aluna A” Faço minhas as suas palavras... Conviver com A é ter um presente diário... Obrigada Pai, por Seu abraço através da pequena A... Tua face tem se revelado a mim através dos pequeninos...
(09/06/2006)

Um comentário:

regininha disse...

sao nos pequenos gestos que tiramos grande exemplos e liçoes de vida eu amei esse texto de coração.
bjssss.........