domingo, 7 de dezembro de 2008

BOLINHA

Vi meu pai chorar como uma criança...
Naquele dia de sol e brisa suave, lá no quintal de sua casa, estava papai com a Bolinha - a gatinha branca de bolinhas pretas que conviveu com a família durante oito anos e meio.i
Foi encontrada na rua, ainda filhotinha, abandonada. Chegando em casa, recebeu todo carinho e cuidado - como todos os animais que lá chegavam - e em bem pouco tempo já fazia suas travessuras! Corre pra cá, corre pra lá, saltos e, no caso da bolinha, cambalhotas. Era muito engraçado!!! Muitas cambalhotas próximas aos nossos pés.
Bolinha trouxe muitos momentos de alegria pra família!
Cresceu, teve filhotes, mas sempre com aquele jeitinho!!! Um bichinho muito amoroso...
De alguns anos pra cá, adoeceu, fez cirurgia, melhorou... mas sua saúde já não foi mais a mesma.
Papai sempre foi muito atencioso, principalmente com os gatos - tivemos dezenas e dezenas deles durante nossa vida lá em casa...
Bolinha e papai eram muito apegados. Nunca vi nada igual em toda a minha vida. Os dois eram um em carne. Impressionante!
Nos últimos dias de vida de bolinha, papai ficou cuidando dela com um amor sobrenatural. Bolinha se tornou um membro da família mesmo.
Depois de muitas indas e vindas aos veterinários, foi descoberto que Bolinha estava com câncer na boca. Por isso nunca ficava curada, apesar de todos os cuidados e tratamentos.
Papai já não se alimentava direito... emagreceu. Virava noites em claro cuidando, alimentando, acalentando, orando, confortando a Bolinha. E ela, lutando pela vida com uma força que eu também nunca tinha visto antes num animal.
Papai e Bolinha conversavam numa linguagem de amor que só eles entendiam, mas que nós que estávamos presenciando a cena, podíamos sentir. Era real aquilo. Eles eram amigos mesmo - uma amizade que muitos humanos não são capazes de sentir um pelo outro.
Naquela manhã de sol e brisa suave, após muitos dias de chuva, cheguei na casa de meu pai, e ele estava preparando Bolinha para ser enterrada. Comprou um paninho branco e a colocou nele. Cavou um buraco no quintal, próximo ao coqueiro, e chorava muito... Sua tristeza e cansaço partiram meu coração.
Pra minha surpresa, ele disse que quando colocou bolinha no buraco e foi se levantando para enterrá-la, ela emitiu um som forte. Ele se abaixou, a pegou, e ela ainda emitia sons fraquinhos... Logo pensei: papai está enlouquecendo...
Então ele a pegou e pediu que eu me aproximasse para ouvir. Nem precisei me aproximar muito... Bolinha realmente ainda estava viva. Devia estar em coma, sei lá. Ela ainda miava lá no fundo, principalmente quando papai falava com ela e eu ouvi tudo. Seu corpo, porém, já estava duro e frio. Nunca vi aquilo na minha vida. Havia ainda vida ali na Bolinha.
Convenci meu pai a deixá-la ali, na sombra, ao ar livre, repousando sobre o paninho branco.
Coei um café, comprei um rocambole de doce de leite, e só assim meu pai comeu alguma coisa. Era meio-dia, mas aquele foi o nosso almoço, já que ele estava sem fome para almoçar. Conversamos e vi que seu coraçãozinho ficou mais confortado. Falei do seu neto e da netinha, filha da minha irmã que estava pra nascer - agora, inclusive, já nasceu e é linda!!!
Bolinha foi enterrada no dia seguinte. Já não emitia mais som algum.
Papai segue sua vida e sei que em seu coração existe uma imensa gratidão a Deus pela vida da Bolinha, a gatinha branca de bolinhas pretas que nos deixa, principalmente ao papai, muitas saudades. Também nos deixa o exemplo de que pela vida vale a pena lutar até o último instante! Foi isso que ela fez.

"... e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais: porque tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar: todos procedem do pó, e ao pó tornarão. Quem sabe que o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirige para cima, e o dos animais para baixo, para a terra?" (Eclesiastes 3:19b - 21)

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